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BORDANDO MEMÓRIAS

PRESERVANDO TRADIÇÕES, CONSTRUINDO FUTUROS

Horizonte: Entrelaçando Fios de História e Tecnologia no Projeto "Bordando Memórias"

Horizonte é uma cidade localizada no estado do Ceará, Brasil, que combina características urbanas e rurais, com 74.755 habitantes (IBGE 2022), a cidade é culturalmente diversa, destacando a Comunidade Quilombola de Alto Alegre, foco deste projeto.

A população de Horizonte é variada, abrangendo crianças, jovens, adultos e idosos. Em meio à rica diversidade cultural do município a Comunidade Quilombola de Alto Alegre se destaca por sua história ancestral e pela preservação de tradições como a arte do bordado. É nesse contexto que surge o projeto “Bordando Memórias”, uma iniciativa inovadora que integra a tradição do bordado à tecnologia digital, promovendo a preservação da cultura quilombola, o desenvolvimento de habilidades digitais e o aprendizado intergeracional.

Coletivo Bordando Resistência

O projeto “Bordando Memórias” é uma extensão do trabalho pioneiro do Coletivo Bordando Resistência, que desde 2017 vem promovendo a inclusão social e cultural das comunidades quilombolas, especialmente as mulheres de Alto Alegre, Horizonte, CE. Inserido no contexto da plataforma CLIC, este projeto representa uma continuação do compromisso em valorizar e preservar a rica identidade cultural quilombola.

  • Herança Cultural Resgatada: O “Bordando Memórias” visa integrar a tradição do bordado ancestral com a inovação digital para documentar e compartilhar as histórias e memórias da Comunidade Quilombola de Alto Alegre. Assim como o “Bordadeiras de Alto Alegre”, este projeto reconhece a importância de fortalecer laços intergeracionais e valorizar a história local.
  • Inclusão e Capacitação: Ao oferecer oficinas de bordado criativo e introduzir elementos digitais na aprendizagem, o projeto promove não apenas a preservação cultural, mas também a inclusão digital e o empoderamento das crianças e mulheres da comunidade.
  • Impacto Amplificado: A metodologia aplicada pelo Coletivo Bordando Resistência continua a impulsionar mudanças significativas, como a produção de livros interativos que combinam bordado e tecnologia digital. Essas iniciativas não apenas preservam tradições, mas também as tornam acessíveis e envolventes para um público mais amplo.
  • Implementação da Lei 10.639/2003: O projeto contribui para a implementação da Lei 10.639/2003, promovendo a educação para as relações étnico-raciais, o combate à discriminação e a valorização da diversidade.

O “Bordando Memórias” na plataforma CLIC é uma extensão desse compromisso, proporcionando uma experiência interativa e educativa que celebra a cultura quilombola e promove o fortalecimento da comunidade.

MERGULHE EM UMA JORNADA CULTURAL ATRAVÉS DO BORDADO E DA TECNOLOGIA

Homenagem a um Ancestral: Cazuza, o Quilombola Fundador

O primeiro livro da série "Bordando Memórias" leva o título "Porque Cazuza Resistiu, Resistimos Também", uma homenagem ao quilombola Cazuza, figura central na fundação da Comunidade de Alto Alegre. Através do olhar sensível das crianças, a história de Cazuza é recontada e tecida em páginas vibrantes, celebrando sua bravura, sua liderança e seu legado.
A arte de bordar a história pelas mãos e olhar da infância.
Mãos que bordam a linha do tempo e no tecido contam histórias. Histórias alegres e tristes, de coragem e de fé, de resistência e insistência. Mãos de crianças e mãos de adultas se juntam, e com arte preservam memórias.
Há muito tempo atrás, um navio trazendo pessoas escravizadas do continente africano, atracou na praia da Barra do Ceará, conta-se que nesse momento aconteceu a fuga de seis homens dos porões do navio para a terra firme. Dentre eles, um homem chamado, Cazuza. Aquele que deu origem a comunidade Quilombola de Alto Alegre, em Horizonte, no Ceará.
A fuga de Cazuza foi longa e arriscada, após muitos dias caminhando pelas florestas, chega as terras de Pacajus. Nesse período homens conhecidos como “capitães do mato”, trabalhavam para os grandes fazendeiros caçando escravos fugitivos. Assim, negro Cazuza foi aprisionado e por sua bravura, foi açoitado e levado ao tronco dos castigos.
Contam os mais antigos através de histórias passadas de pais para filhos, que o negro Cazuza foi açoitado durante três dias preso a um tronco de carnaúba, depois de sofrer todas as formas de humilhações e castigos, foi solto por seus agressores. Muito machucado, saiu a busca de refúgio, caminhando pela floresta por muitos dias.
Depois de caminhar sozinho por dias, finalmente encontrou proteção e cuidado na aldeia indígena dos Paiacus. Passou então a conviver na Aldeia, conquistou a confiança da tribo, começou a ajudar na subsistência e se adaptou no meio deles. Na aldeia, Cazuza era respeitado e aprendeu a cuidar e cultivar a terra.
Na convivência da aldeia, Cazuza passou a viver com mais sossego, sem medo de ser perseguido, nesse período conheceu uma bela índia por quem se apaixonou e juntos constituíram uma bela família. Assim, se inicia a primeira geração da comunidade Quilombola, originaria de uma indígena e um negro vindo como escravo do continente africano.
Cazuza passou a cuidar da agricultura e criação de animais domésticos para alimentação e troca de mercadorias. Nessa época a sobrevivência era retirada totalmente do meio ambiente, que era rico em diversidade. Cultivava para alimentar a família, comunidade e eram cheios de saúde, pois, apesar de viverem com pouco conforto, se alimentavam de frutas, verduras, legumes, grãos, sempre muito saudáveis.
Conta-se que Cazuza construiu uma família numerosa, mas não existem narrativas quanto ao real número de filhos, mas todos os descendentes de Cazuza foram se estabelecendo nas terras hoje denominadas Pacajus e Horizonte. Mas precisamente nos bairros de Alto Alegre, Alto do Estrela e Cajueiro da Malhada no distrito de Queimadas em Horizonte, e na localidade denominada Base, em Pacajus.
Nessas terras Cazuza viveu sua juventude, constituiu família, envelheceu. Sabe-se que viveu muitos anos, mas não existe uma precisão quanto a idade de sua morte. Sempre foi um líder da sua comunidade. Um homem forte, corajoso, trabalhador, cheio de amor pelos seus e exemplo para as próximas gerações.
Cazuza faleceu deixando uma numerosa descendência de homens e mulheres, com uma grande força moral e orgulho de suas raízes, sua história, suas lutas. A resistência é uma marca do povo quilombola no país inteiro, nas terras dos Paiacus não foi diferente. Hoje Cazuza é reverenciado como um heroi do seu povo, e a cada dia ressaltam a sua resistência e memória ancestral.
O tempo passou, mas a comunidade busca todos os dias os espaços de dignidade a que tem direito. Foram muitos anos de invisibilidade e servidão. “O poder público demorou muito para nos enxergar.” É uma luta diária, que avança a cada dia, mas muito ainda há a conquistar em todas as áreas, para que se possa de fato ter os direitos das pessoas negras respeitados e garantidos.
O Centro Cultural Quilombola personifica as conquistas da comunidade hoje. Fortalece a organização comunitária, identidade e a cultura, e se constitui espaço de reflexão e de alternativas para a superação dos problemas que os afligem. Muitos desafios já foram superados, no entanto, muito ainda existe para ser conquistado.
As gerações advindas de Cazuza foram bordadas coletivamente e representam a descendência da comunidade Quilombola, a força humana se realiza através dos pontos e nós aqui bordados. Dando significados a luta pela liberdade, as pequenas e as grandes conquistas. “Porque resistimos lá atrás, é que hoje estamos aqui.” Pelo direito a vida digna, resistimos e insistimos todos os dias.
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Um Processo de Construção Colaborativa

Para dar vida a essa obra única, um processo de construção colaborativa envolveu diversos atores:

  • Encontros Intergeracionais: As crianças da comunidade se conectaram com membros mais velhos da comunidade, incluindo descendentes de Cazuza, em oficinas dinâmicas, trocando saberes e experiências sobre a história da comunidade e a figura de Cazuza.
  • Desvendando a História: Através de diálogos, pesquisas e reflexões, as crianças mergulharam na história de Cazuza, compreendendo sua importância para a comunidade e seu papel na luta pela liberdade.
  • Desenhos Expressivos: Em um momento de criatividade, as crianças expressaram suas interpretações da história de Cazuza através de desenhos vibrantes e cheios de significado.
  • Bordado a Duas Mãos: Em um processo de aprendizado mútuo, as crianças e os membros mais velhos da comunidade se uniram, tecendo em conjunto as páginas do livro.
  • Memórias Bordadas: Cada página do livro é um registro único da história de Cazuza e da visão das crianças, preservando memórias e fortalecendo a identidade da comunidade.

Um Legado para as Futuras Gerações

Um convite à ação

Ao ler “Bordando Memórias: Porque Cazuza Resistiu, Resistimos Também”, você não é apenas um espectador, mas um participante ativo na preservação da cultura quilombola e na luta por um futuro mais justo. A obra convida à reflexão, ao diálogo e à ação, incentivando o respeito pela diversidade cultural, o combate ao racismo e a construção de uma sociedade mais inclusiva.

Junte-se a nós nesta jornada e contribua para construir um futuro mais justo e inclusivo, onde a cultura quilombola brilhe com toda a sua força!